não conte pra mamãe

21.7.05

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Hoje assisti a uma transmissão ao vivo da TV Camara, onde o nobre presidente Severino é entrevistado por um jovem reporter.
Seria cômico se não fosse trágico.
A matéria tinha tudo para ser tranqüila, apenas registrar um dia da rotina da Camara.
Até que o reporter, visivelmente assustado pela oportunidade de falar com o ilustre deputado, chefe da casa, pergunta quais os próximos assuntos que estarão na pauta.
Severino diz que são assuntos importantes como a Reforma Tributária e o...o...o....a...começa a gaguejar de forma constrangedora e simplesmente não consegue citar nenhum outro assunto.
Nem ao menos um.
O garoto vai a seu socorro e dita “...a reforma política”. Sua excelência prontamente repete aliviado, mas volta a gaguejar tentando encontrar outro projeto, e de novo não consegue lembrar nenhum.
Irritado com a própria incompetência, Severino se afasta do microfone (talvez achando que a matéria seria editada) e resmunga com braços abertos...”não dá pra responder isso, meu filho...”, como se o garoto tivesse perguntado qual a órbita de Saturno.
Fica claro que Severino não é despreparado para ser presidente da casa mais importante do legislativo nacional.
Severino é, sim, despreparado para ser zelador de um prédio de 3 andares.
Severino não é sequer articulado, não é nem mesmo um Jefferson ou um Maluf que têm cara de picareta mas são ensaboados.
Severino é tosco e tacanho. O retrato de boa parte de nossos políticos. Pobres coitados incapazes de rimar lé com cré, como se dizia antigamente. Bestas-feras com pouca ou nenhuma ética, e montados no poder que nós mesmos lhes concedemos.
Mas o problema não termina aí. Apenas começa.
Está se criando um abismo entre a iniciativa privada e o governo.
Por conta das competitividade entre empresas e até nações, está sendo criada, na iniciativa privada e na imprensa, uma nova casta de profissionais altamente bem treinados. Ótimos economistas, advogados, jornalistas, engenheiros, brilhantes profissionais em todas as áreas.
Estamos nos transformando numa sociedade muito bem preparada no setor privado.
Um abismo se criou.
Por que na política, por uma completa falta de cobrança e de benchmark, contamos com um exército de Severinos e Delubios.
Gente com pouquíssimo preparo. Gente que não está mais a altura de nosso pais. Gente que, se sair de Brasília só consegue emprego como lobista, vendendo influência. Não podemos mais admitir que nossa economia, nossas leis, sejam regidas e redigidas por gente tão despreparada. Nem temos tempo para esperar que uma reforma na educação (que mal começou) gere nossos próximos líderes.
Ponto.
Parágrafo.
Neste final de semana viajei pela Rodovia dos Bandeirantes. Que maravilha é a privatização. Muito melhor do que as ruas esburacadas de São Paulo. Meu telefone celular pegou a viagem inteira. Que eficiente foi a privatização da telefonia celular (claro que existem problemas, mas lembre-se dos escândalo dos Correios e você verá que os problemas são mínimos, são apenas operacionais, que o Procom resolve).
Tudo que é privatizado neste pais, aos menos funciona.
Então minha proposta é privatizar Brasília.
Fazemos uma concorrência (auditada pela Price), chamamos umas 5 empresas internacionais (ou mesmo alguma nacional) e privatizamos tudo. Executivo, Legislativo e Judiciário.
Fora com o Congresso, os burocratas, a Camara, as votações, o fim do funcionalismo público.
Nós, os brasileiros, incapazes de nos administrar ou de votar, contratamos uma empresa para nos gerir.
Não sei se dará certo, mas convenhamos, ficar pior do que está, duvido.

16.7.05

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Não sou exatamente fã de Barbara Gancia, mas desta vez, ela se superou. Absolutamente descabido seu texto na página C2 da Folha de 15 de julho em defesa de Eliana Tranchesi e do esquema Daslu.
Para Barbara, a carga de impostos inviabiliza o comércio de importados no Brasil e, por essa razão, sonegar passaria a ser uma alternativa aceitável. Mais ainda se o sonegador devolver benefícios para seus empregados, como escola até a sexta série (porque não até a oitava??) para os filhos dos empregados, ou aulas de balé e capoeira, ou inglês e costura.
Uma bela vista do Rio Pinheiros para suas 36 costureiras e para Barbara está tudo certo.
Danem-se os que não sonegam. Dane-se a lei. Para Barbara, a Daslu criou uma espécie de microcosmo onde reina a justiça social. Uma espécie de redistribuição de renda faça-você-mesmo.
E mais. Em seu texto Barbara ainda sugere que “o consumo gera emprego e prosperidade” o que não deixa de ser verdade, principalmente para os paises que produziram as mercadorias vendidas praticamente sem impostos, mas compradas pelos clientes Daslu como se estes fossem pagos.
Na mesma Folha, por sorte Luis Nassif esclarece o esquema. Só para se ter uma idéia da ordem de grandeza, Nassif exemplifica que para uma mercadoria que custasse 100, ao invés de pagar mais 150 de impostos devidos, Daslu através de seu esquema, pagava apenas 22,5 (mas, é claro, extorquia os 250 da clientela que saiu em sua defesa).
Lembrem-se das 36 costureiras olhando o por do sol e está tudo perdoado.
Num ponto, no entanto, Barbara Gancia está certa: a ira que o consumo de luxo gera por aqui.
Não sei se é exatamente o consumo de luxo, afinal de contas, ninguém apedreja a loja da Ferrari na Avenida Europa. O que causa ira é a Daslu mesmo. Ou melhor, quem causa ira é a própria Eliana Tranchesi. E por um motivo simples: dondocas devem gastar e não ganhar dinheiro.
Ninguém liga se o Antonio Ermírio de Moraes ganha rios de dinheiro, afinal ele se encaixa definitivamente no clichê de um tycoon workaholic. Mas Eliana Tranchesi não. Ela deveria passar as tarde passeando com seu poodle na Oscar Freire, e não construindo um monumento em homenagem à riqueza que ela mesma conquistou (agora sabe-se como) e manteve.
Rompendo com o que se espera de seu personagem, Eliana enche de orgulho suas (e seus) iguais e desperta a ira da anti-peruagem.
Assim, sua possível derrocada somada a uma possível fraude tributária, se comprovada, colocam tudo de volta em seu lugar na grande ordem das coisas.
E por falar em lugar, é curioso como a notícia da mudança de presídio de Fernandinho Beiramar está na página policial, no Cotidiano, mas o caso Daslu no caderno Dinheiro.