não conte pra mamãe

10.2.05

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Sempre que volto de férias, é inevitável pensar em como o tempo está passando no lugar por onde passei.
Enquanto estou aqui, de frente para esta telinha ridicula de computador, o mundo lá fora está acontecendo como se fosse um feriado. Seja nas praias do Brasil, seja no interior da Inglaterra, tenho quase certeza que o mundo é muito mais legal do que aqui.
Claro que tem gente mais miserável que você e eu. Mas por que pensar neles?
Pense, sim, nos que tiveram a sorte de viver em cidades mais limpas, mais organizadas, mais interessantes que a sua.
Quem deu sorte de nascer em Amsterdan, Viena, Paris ou na pequena Herdfordshire. Não importa. quanto mais eu viajo mais eu não gosto daqui. E pior. Venho desenvolvendo o lamentável sentimento que desperdicei minha vida numa cidade que não me merece.
São Paulo está um lixo.
Suja, desinteressante, cheia de um caldo cultural intragável.
Antigamente você pagava seus impostos e recebia serviço-lixo em troca.
Agora você ainda paga pela taxa do lixo.
Durante o Carnaval São Paulo esteve mais proporcional. Não tinha filas, não tinha transito. Era quase habitável.
Mas passou.
Não gosto nem de propor idéias para melhorar a situação.
Boa parte das idéias que me ocorrem são xenófobas demais para expor em público. São radicais demais. São grosseiras, preconceituosas demais para escrever.
Melhor guardar para mim as vergonhosas opções que nos restam. Melhor conviver com o fracasso de ser mais um paulista incapaz de criar uma cidade descente.
Sou covarde demais para propor mudanças.
E ainda mais covarde para me mudar.