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Votei no Partido Verde logo que surgiu, em 1987, numa eleição simulada na empresa em que eu trabalhava na época.
Fui o único voto.
Gostava do Gabeira.
Infelizmente, durante boa parte da década de 90, Gabeira apareceu com projetos estapafúrdios, como o da liberação da maconha.
Num país que não dá conta de tratar sequer de seus alcoólatras, como pensar em liberar as drogas?
Não fomos capazes de desenvolver um sistema de saúde digno, pago pelo Estado, como pensar em priorizar a liberação da maconha?
Mas esse é outro assunto.
O fato é que no início desta década, Gabeira voltou a chamar a atenção.
Primeiro tirando Severino da presidência da Câmara dos Deputados, um lugar que aquele sujeito nefasto jamais poderia ter chegado, muito menos presidido.
Recentemente, Gabeira foi ao plenário para mais uma participação (de tantas que acumula) relevante para a história moderna do Brasil.
Em poucas palavras, resumiu a solução do problema que nos afeta a todos: a violência.
Segundo Gabeira, a solução é simples. Dar dinheiro ao povo. Ponto final.
Gabeira disse isso de maneira quase ingênua.
Terminou sua fala e desceu para se misturar a outros deputados.
Em sua objetividade, Gabeira afirmou o óbvio que ninguém, pricipalmente nós, das elites, queremos ver.
Ponto, parágrafo.
Na semana em que o garoto carioca foi barbaramente assassinado, a Revista Veja, aquela mesma que tentou convencer seus leitores - e convenceu boa parte deles - que andar armado é uma alternativa coerente, a mesma revista que vem se mostrando retrógrada e reacionária em todos os temas relevantes deste país, decidiu que "é hora de dar um basta".
Veja publicou em itálico, intercalado com a descrição factual do lamentável ocorrido, uma quantidade incontável de afirmações descabidas, que não passam de palavras de ordem semi-fascistas.
Bobagens sem objetivo prático. Uma forma de desabafo, discurso vazio que poderia ter saído da boca de qualquer um dos playboys armados, representantes de nossa elitezinha inútl.
A geração da nobreza-fútil, que Veja ajudou a criar.
Ponto, parágrafo de novo.
O Fantástico, na Globo apelou. Durante quase dez minutos expôs uma mãe e um pai destruídos - como não poderia ser diferente.
Mas a certa altura, a matéria não trata mais da violência.
Qualquer pai e mãe que perdesse um filho - em qualquer circunstância - estaria igualmente arrasado.
Não faz sentido expor essa família além do [também questionável] depoimento sobre o fato em si.
Mas o Fantástico se alonga como sempre, para mostrar os detalhes mais cruéis da situação e comover a força.
Passado o drama-TV, o programa que, quase sempre, utiliza a Veja como referência não só de pauta mas até de opinião, tomou - surpreendentemente - outra direção e, ao ouvir Viviane Mosé, permitiu que o simplismo de Gabeira fosse explicado pela filosofia.
Gabeira e Mosé, em suma, dizem a mesma coisa:
A única maneira de nos livrarmos desta maldita violência que nos cerca, é nossa elite incompetente, essa da Daslu, essa dos Jardins, essa que anda de carros blindados, essa da Revista Veja, entender que não é mais possível esperar uma solução do governo. Não é mais possível pedir mais repressão policial ou o exército nas ruas. Incluídos e excluídos se desprezam mutuamente, mas esses últimos não têm nada a perder. Os excluídos nos superam em quantidade e em desprezo. Não é mais possível esperar que o problema se resolva se nós não dividirmos a riqueza. Se não permitirmos que mais gente tenha acesso à nossa vida de regalias e luxos mundanos. Essa gente não quer só comida, diz a música.
Só distribuindo riqueza, só dando dinheiro para o povo é que o problema vai se resolver.
Pode soar um discurso antigo, mas não é.
É muito moderno.
Muito mais moderno que a maconha do Gabeira.
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