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Não sou exatamente fã de Barbara Gancia, mas desta vez, ela se superou. Absolutamente descabido seu texto na página C2 da Folha de 15 de julho em defesa de Eliana Tranchesi e do esquema Daslu.
Para Barbara, a carga de impostos inviabiliza o comércio de importados no Brasil e, por essa razão, sonegar passaria a ser uma alternativa aceitável. Mais ainda se o sonegador devolver benefícios para seus empregados, como escola até a sexta série (porque não até a oitava??) para os filhos dos empregados, ou aulas de balé e capoeira, ou inglês e costura.
Uma bela vista do Rio Pinheiros para suas 36 costureiras e para Barbara está tudo certo.
Danem-se os que não sonegam. Dane-se a lei. Para Barbara, a Daslu criou uma espécie de microcosmo onde reina a justiça social. Uma espécie de redistribuição de renda faça-você-mesmo.
E mais. Em seu texto Barbara ainda sugere que “o consumo gera emprego e prosperidade” o que não deixa de ser verdade, principalmente para os paises que produziram as mercadorias vendidas praticamente sem impostos, mas compradas pelos clientes Daslu como se estes fossem pagos.
Na mesma Folha, por sorte Luis Nassif esclarece o esquema. Só para se ter uma idéia da ordem de grandeza, Nassif exemplifica que para uma mercadoria que custasse 100, ao invés de pagar mais 150 de impostos devidos, Daslu através de seu esquema, pagava apenas 22,5 (mas, é claro, extorquia os 250 da clientela que saiu em sua defesa).
Lembrem-se das 36 costureiras olhando o por do sol e está tudo perdoado.
Num ponto, no entanto, Barbara Gancia está certa: a ira que o consumo de luxo gera por aqui.
Não sei se é exatamente o consumo de luxo, afinal de contas, ninguém apedreja a loja da Ferrari na Avenida Europa. O que causa ira é a Daslu mesmo. Ou melhor, quem causa ira é a própria Eliana Tranchesi. E por um motivo simples: dondocas devem gastar e não ganhar dinheiro.
Ninguém liga se o Antonio Ermírio de Moraes ganha rios de dinheiro, afinal ele se encaixa definitivamente no clichê de um tycoon workaholic. Mas Eliana Tranchesi não. Ela deveria passar as tarde passeando com seu poodle na Oscar Freire, e não construindo um monumento em homenagem à riqueza que ela mesma conquistou (agora sabe-se como) e manteve.
Rompendo com o que se espera de seu personagem, Eliana enche de orgulho suas (e seus) iguais e desperta a ira da anti-peruagem.
Assim, sua possível derrocada somada a uma possível fraude tributária, se comprovada, colocam tudo de volta em seu lugar na grande ordem das coisas.
E por falar em lugar, é curioso como a notícia da mudança de presídio de Fernandinho Beiramar está na página policial, no Cotidiano, mas o caso Daslu no caderno Dinheiro.
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