não conte pra mamãe

29.1.07

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Schopenhauer tem uma imagem interessante.
A idéia de que os jovens encaram a vida como crianças na frente de uma cortina de teatro.
Ansiosos, excitados com o espetáculo que está para começar.
Quando a vida passa, esse brilho de excitação desaparece.
As perdas, as doenças, os amores perdidos, as mortes, as decepções, as inseguranças, os fracassos, transformam esses espectadores em sujeitos tristes e vencidos.
Se pudessem saber as decepções que os esperam, não seriam tão felizes, os jovens.
Isso quem diz é Schopenhauer.
Só li o que ele escreveu, não me julgue.
Quem sou eu para concordar ou não.

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Domingo à noite fui a uma pizzaria com minha mulher e minhas filhas.
É um programa corriqueiro, quase medíocre.
Sentamos, pedimos a pizza, revemos o que aconteceu no final de semana, o que vai acontecer ao longo da semana, enfim, é só uma pizza.
Não é exatamente um momento onde a gente vibre de excitação, como você pode imaginar apesar de, sempre que estamos juntos, existe a satisfação desse convívio.
Na mesa do lado, estavam dois homens de trinta e poucos anos, com suas mulheres.
Os sujeitos conversavam e riam alto, como se aquele fosse um momento de grande alegria.
Fiquei olhando para eles tentando entender tanta felicidade.
Para eles, aquele parecia ser - sem razão aparente - um momento especial como...não pude deixar de pensar em Schopenhauer...o momento que antecede a abertura das cortinas de uma peça de teatro.
Como podem ser tão felizes numa pizzaria?

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Não sou um sujeito amargo.
Mas quando vejo gente dançando, bebendo, rindo, ou - principalmente - nestas semanas que antecedem o Carnaval e a televisão exibe esse pastelão de desfiles de escolas de samba, esses sambas todos iguais, essa gente pulando sem motivo, toda essa alegria com hora marcada, arrisco - pretenciosamente - compreender Schopenhauer.
Acho que ele não se referia aos jovens literalmente.
Na verdade, ele dividiu o mundo entre os que esperam uma comédia começar, excitados, festeiros, com suas caipirinhas em punho de um lado, e de outro os que já sabem que a peça é boa, é verdade, mas não é fácil de entender nem tem piadas fáceis.