não conte pra mamãe

15.3.07

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Estava olhando algumas fotos das reações à visita do presidente George W. Bush ao Brasil.
São imagens fortes.
Mostram violência de ambos os lados.
A polícia espancando manifestantes.
Um garoto atirando tinta vermelha num prédio.
Duas neo-hippies, seios de fora, palavras de ordem pintadas no corpo.
Gente sangrando, vidro quebrado e caminhões do exército nas ruas.
Uma imagem, no entanto, chamou especialmente minha atenção.
Não mostra nenhum abuso ou agressão.
É a foto de uma multidão com bandeiras vermelhas e camisetas temáticas.
Muita gente. Milhares.
Olhando cada detalhe da foto, fica claro que há muito esforço para unir tanta gente com mensagens tão bem elaboradas.
Numa camiseta, Bush tem um bigode de Hittler aplicado e o "S" de "Fora Bush" é uma suástica. Uma faixa tem os dizeres "Chega de Chacina". Outra diz apenas "Kyoto". E assim vai. Milhares de faixas, cartazes, camisetas.
Todos reunidos para protestar pela vinda do presidente polêmico.
Não sei como um americano entende essa foto.
Diferente das cenas de violência, que poderiam ser vistas como atos individuais, esta foto, em especial, mostra um esforço coordenado.
Não me preocupa qual será a reação do americano comum.
Este mal sabe onde fica a América do Sul.
O que me preocupa é o que pensará o americano esclarecido.
Aquele que lê jornais.
Aquele que acompanhou os escândalos do primeiro governo Lula.
Aquele americano, que a certa altura do escândalo do mensalão, pensou: esse povo brasileiro realmente é pacato, afinal, é roubado à luz do dia e não reage.
Aquele americano que ouve falar da violência no Rio, do tráfego de drogas, dos turistas assassinados, e que assistiu, na CNN cenas do Carnaval no Sambódromo e pensou: gente de paz essa...
Aí o sujeito abre o NY Times e dá de cara com essa imagem.
Aquela gente sempre sorridente e feliz, que desfila nua em fevereiro, resolveu se coordenar não para expulsar o José Dirceu, ou para exigir que o congresso não aumentasse seus salários, ou para pedir leis mais rígidas contra crimes hediondos.
Nada disso incomoda o pacato brasileiro, pensa o americano esclarecido, só o Bush tira essa gente do sério.
O americano esclarecido, então, muda a página do jornal, pede outro Martini e pensa:
Pronto brasileiros.
Podem voltar a sorrir.
Agora que Bush já voltou, sua vida pode voltar ao normal.

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O Ministro Waldir Pires, da Defesa, censurou um texto do Boris Casoy que falava sobre o levante comunista de 35 e Luiz Carlos Prestes. Mandou tirar de uma publicação do Ministério. Um Ministro da Defesa não nos permitiu ler o texto do Boris. Do que será que ele está nos defendendo? O que assusta é que Waldir Pires é advogado e teve seus direitos políticos cassados em 1964. Alegou que levantar "estes assuntos pode abrir feridas antigas". Censurar não abre feridas antigas? Como lembrou Elio Gaspari, a França vive em paz com a degola de Luiz 16. Não se pode - via censura - apagar o passado. Triste fim Ministro.

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