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Acabo de voltar de Nova Iorque.
Não sou marinheiro de primeira viagem.
Nos últimos 20 anos fui dezenas de vezes para NY.
Foi a grande cidade dos anos 80.
Fiquei lá desde períodos de poucos dias até várias semanas. No west side, no east side e no soho.
Posso não ser uma Katia Zero, mas não sou iniciante.
E posso dizer sem medo de errar: NY, a cidade que já foi a mais interessante do mundo, está decadente.
A razão é simples. O caldo cultural que transformou a cidade numa espécie de porto-livre do planeta, onde todas as culturas se encontravam por períodos curtos, mas onde nenhuma era hegemônica, se dissipou e NY se transformou na maior cidade latina do mundo.
Note que o fato de serem os latinos que tomaram posse não é a causa do problema.
É só um sintoma.
Não sou preconceituoso com nossa própria raça.
Diria o mesmo se fossem americanos ou dinamarqueses.
Ocorre que quando uma única etnia domina a cidade, o charme principal desaparece.
NY se transformou numa cidade entupida de turistas, que vão lá para ver o que restou da NY do final do século passado.
E a mão de obra latina é mais barata para servir a esta multidão.
Na prática, não tem nada de realmente revolucionário na NY de hoje.
E para ajudar a piorar o quadro, a globalização e a blogosfera, torna tudo menos novidade, tudo é mais comum do que era há 15 anos.
A multidão, por sua vez, é tratada como tal: como multidão. Ninguém é especial.
Um jantar, por exemplo: saia do hotel, pegue o taxi, desça do taxi, escolha uma das milhões de escolhas do cardápio feitas para criar a ilusão de que existe uma opção criada exatamente para você. Mas não se engane. Não existe. Na verdade, a miriade de opções só servem para evitar que você queira algo específico, algo exclusivo.
Em NY, ninguém mais é exclusivo.
Ninguém merece tratamento diferenciado.
A fila, militarmente organizada, para ver as vitrinas das lojas importantes é mais um sintoma grave.
Olhe and step asside, para deixar o próximo olhar.
A NY de Woody Allen, de Frank Capra, de Tommy Dorsey, de Bing Crosby está por ali, como numa vitrina a céu aberto.
Mas é só para olhar.
Se tocar, vira Cidade do México na hora.
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