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Talvez alguém por aí não conheça o significado de Catch 22.
Catch 22 é a cilada burocrática que impedia os pilotos de caças americanos da segunda guerra de pedir baixa.
Funcionava mais ou menos assim: só um piloto louco deveria parar de voar.
E só um piloto são pede para parar de voar.
Assim, como um piloto que pede para parar de voar não pode estar louco, então não pode parar de voar, percebe a lógica?
Catch 22 virou filme, traduzido por aqui como "Ardil" 22.
Depois de ver o resultado de Cannes deste ano, lembrei do roteiro de Buck Henry.
Não exija profunda pertinência em minha analogia.
Foi apenas uma dessas livre-associações que um dia terão explicação melhor, num divã ou um numa mesa de bar.
O fato é que não ganhávamos prêmios suficientes para alimentar nossos famintos egos, então fazíamos peças fantasmas. Agora, nem nossas peças fantasmas são premiadas.
E os fantasmas que ganham, nos antecipamos em retirar por "questões éticas".
Enquanto isso, o mundo continua se auto-premiando, com suas peças dignas, pertinentes e legitimas.
A verdade é nua e crua, só que como também é gorda e peluda, temos medo de encará-la de frente.
E sempre que se tem medo de bater de frente, surge essa sugestão:
"Vamos sentar e discutir melhor esse assunto."
Discutir exatamente o que?
Que somos um país pobre? Que nossas maiores contas são de varejo? Que nossa TV está virando um tablóide eletrônico? Que nosso povo é 80% analfabeto? Que, exatamente por isso, o que críamos deve ser rasteiro e óbvio? Que nossas emissoras não permitem inovações de formato? Que a globalização nos impôs conceitos globais que não dialogam com nossa cultura?
Depois do vareio que tomamos da França, ainda tem gente que acha nossa seleção a melhor do mundo.
Propõe-se também uma ampla discussão.
E para que?
Já sabemos a conclusão: "somos uma seleção brilhante que não sabe jogar em conjunto"
Na discussão sobre o fiasco em Cannes, já sabemos a conclusão: "somos brilhantes criativos, só não estamos conectados aos prêmios".
O que nos mata é essa nossa Galvão-Buenisse.
Somos uma geração derrotada.
Em Cannes e na Copa.
Durma-se com um barulho desses.
E não é com conversa que se resolve o problema.
Alias, acho mais fácil resolver o problema do futebol do que o de Cannes.
No futebol, um pouco de vergonha na cara resolve.
Na propaganda, não falta vergonha e estou seguro que o esforço foi grande.
Por isso mesmo não vai ser fácil sair dessa.
A solução, ao contrário do futebol, não será de dentro pra fora.
O mundo está fascinado com sua própria inteligência.
E nós não estamos incluídos.
Prêmios em propaganda estão se transformando num luxo.
Um luxo a que tem direito os países que têm não apenas bons criativos, mas também um mercado estável, uma indústria consumidores preparados para mensagens cada vez mais elaboradas.
E nós só temos os bons criativos.
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