não conte pra mamãe

4.7.06

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– "Como é que tá lá?"
O sujeito cujo nome não lembro me cumprimentou com a tradicional expressão que no léxico corporativo é o equivalente-politicamente-correto para algo como "E aí? Ferrou?".
Respondi com a única resposta aceitável na ética dos encontros rápidos:
– "Tudo bem, e lá?"
– "Levando." – concluiu meu anônimo conhecido.
E assim nos despedimos.
Ele certo de que não há nada de novo cá.
E eu certo de que não há nada de novo por lá.
O que não deixa de ser uma boa notícia, pelo menos para os americanos que consagraram o no news is good news.
O fato é que, em ano de Copa do Mundo, eleição e feriados em profusão, estamos todos na expectativa.
Todos temem que, além da desclassificação, vacas magras venham aí.
Como afirmou Schopenhauer ou Luana Piovani: “a convicção é a maior inimiga da verdade”.
Então, antes de me convencer de minhas próprias conclusões, fui pesquisar as tendências.
Ao que parece, o mundo lá fora (que não inclui o Brasil, obviamente) evoluiu.
Na crise, ao invés de demitir, preferem aumentar a demanda.
E trago provas.
Em uma pesquisa realizada por uma grande agência de propaganda, entre seus principais clientes no mundo, mais de 60% optaram por estratégias de geração de demanda ao invés de redução de custos (um eufemismo para cortes de pessoal).
Chegou também às minhas mãos um estudo da McKinsey realizado em 1.200 empresas em todo o mundo.
Segundo esse estudo, a cada ponto percentual de acréscimo de volume de vendas, o lucro cresce 3,7%.
Em contrapartida, se esse mesmo ponto percentual for utilizado para "cortar custos", o lucro cresce apenas 2,7%.
Em português claro: vender mais dá mais lucro do que mandar gente embora.
O documento garante ainda que, se o tal ponto percentual for utilizado para subir o preço do produto, na média dessas 1.200 empresas, o resultado será um acréscimo de lucro da ordem de 11%.
Enfim, o importante é que, at the end of the day, como diria boa parte de meus companheiros de trabalho, aumentar o preço ou correr atrás de clientes é muito mais lucrativo do que cortar pessoal.
Que coisa mais antiquada!
A gente aqui achando que "menos é mais" e o mundo civilizado correndo atrás de consumidores.
Não sei se isso vai valer por aqui.
Afinal, mandar gente embora é muito mais fácil.
Só é preciso uma planilha de Excel.
Já para conquistar mercados, a gente tem que trabalhar.
Boa parte do mundo já entendeu este recado.
Demitir não é a solução.
A solução é vender mais.
Nós, parreiristicamente, insistimos.
O fato é que nos demos muito mal na Copa, tentando jogar nosso futebol.
Não fomos lá muito bem em Cannes, tentando fazer nossa propaganda.
Que tal se na hora de cortar pessoal a gente der uma de macaquitos só para variar e imitar o resto do planeta?
Só para variar.