não conte pra mamãe

16.5.06

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O colunista Demétrio Magnoli, no texto "Pânico no Galinheiro", publicado na seção Cotidiano da Folha de terça-feira 16 de maio, afirma que é uma vergonha a reação dos paulistas aos boatos de segunda-feira, fugindo para seus "bunkers domésticos".
Chamar São Paulo de "galinheiro" retrata bem o caos que a cidade se transformou não na última segunda, mas nos últimos anos em termos de segurança, saúde, educação, poluição e o que mais se leve em conta.
Mas termina aqui o acerto do colunista que erra ao nos chamar de covardes e nos comparar aos londrinos e aos bósnios.
Alias, o simples fato de comparar a violência urbana à que estamos submetidos com a de países em guerra, já deixa clara a gravidade da situação e justifica a reação alarmada dos habitantes de uma metrópole em tempo de suposta paz.
Demétrio chega até a referir-se aos londrinos como modelo de heroísmo.
Tais comparações são descabidas e carecem de embasamento histórico. Os londrinos, durante a segunda guerra, chegaram a enviar suas crianças para casas de parentes em cidades vizinhas e, boatos à parte, as mortes neste final de semana superaram as mortes em Bagdah no mesmo final de semana.
Qualquer raça teme a violência e é ingenuidade prostrar-se diante da iminência de uma profusão de criminalidade. Para o colunista parece ser motivo de orgulho parar diante de bandidos armados, para mostrar-se herói.
Não somos covardes os paulistas.
Somos, sim, descrentes da capacidade do governo de nos prover segurança.
Alias, somos descrentes da capacidade do governo em nos prestar qualquer serviço que seja, por isso a classe média que pode, corre para os planos de saúde privados, para as escolas particulares e recorre à segurança privada.
Nosso governo, municipal, estadual e federal ruiu.
O caos de ontem não foi covardia. Nem foi o efeito de uma guerra psicológica, como alega Demétrio.
Foi só o sintoma de um povo que perdeu a conexão com seus governantes e que, por isso, não crê em suas instituições.