não conte pra mamãe

8.11.06

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The Long Share

Li e reli os livros da moda.
Tipping Point, Long Tail, The Perfect Thing.
A epidemia, os nichos, o iPod.
Tem uma coisa em comum aos três.
Não é a internet.
É o sharing.
Sharing é uma palavra difícil de traduzir.
Pode ser dividir, compartir, compartilhar.
Mas não é exatamente nenhuma delas.
Dividir não é, porque 2 músicas divididas por 2 pessoas dá 1 música para cada.
E quando alguém share 2 músicas, as 2 pessoas acabam com 2 músicas.
Compartilhar tem uma idéia de simultaneidade que não existe em "sharing"
Compartir lembra dividir que, de novo, não representa o espirito de sociabilizar de share.
Me ocorreu que sharing é o grande benefício da internet à nossa cultura.
E nós não temos muito claro como lidar com isso ainda.
Então criam-se teorias e escrevem-se livros.
Para tentar resolver os problemas que surgem, aparecem também os pretensos controles, vem o Congresso querendo regulamentar, vem a indústria com seu DRM e com a ilusão de que ainda existe espaço para copyright.
Não existe.
A briga para manter o status quo já foi perdida.
O sharing jogou por terra a idéia de direito autoral.
E põe em cheque todo o arcabouço do direito atual.
Tão maravilhoso para nós, que tivemos a sorte de viver neste período histórico quanto terrível para a indústria que teve seus alicerces atingidos, mas que insiste em não acusar o golpe.
O que era copyright agora é o direito de copiar.
Sharing, peer to peer, é uma idéia absolutamente devastadora.
Qualquer obra, texto, música, filme, software, inteligência que possa ser transformada em bytes está ameaçada de tornar-se epidêmica.
E seu autor de não ver um único tostão de seu sucesso.
Os produtos físicos estão protegidos?
Que nada.
Nesse new-shared-world nada é secreto.
Nem a fórmula do sabão em pó, nem o design do novo modelo da Volks.
Share the wealth, distribua sua riqueza, numa livre tradução, é como os sites do underground chamam os fóruns de distribuição de software pirata.
"Distribua a riqueza".
A idéia de que você tem e pode dar para o próximo sem perder o que é seu.
Amanhã a recíproca será verdadeira. Ou não. Whatever.
O assustador é que, no contexto da internet, Share The Wealth é igual a share.
Você sempre e só share the wealth.
Alguém tem, você não.
Segundos depois, vocês dois têm.
Está distribuída a riqueza.
Next.
Com a música e agora filmes, só não percebe quem não quer, está acontecendo uma 'Reforma Agraria' global.
Num único depositário, a Internet, está toda a produção musical do planeta.
Que passo a passo está sendo transferida de um usuário para outro.
De um iPod para outro.
Lentamente.
Em teoria, o peer-to-peer potencialmente dá a todos, o direito de ter todas as músicas já produzidas.
Os limites desse mega-share-the-wealth não são os legais.
São apenas sua banda e seu espaço em disco, que no futuro próximo não representarão mais limitação alguma.
Ah. E sua ética, é claro.
Mas historicamente, sempre que dependeu da ética, o homem desapontou o homem.

2 Comments:

At 3:30 AM, Blogger Regis Gomes said...

Excelente texto, a confirmação do sharing está aqui ó: http://del.icio.us/regisgomes/MUSIC
uma lista de blogs dispostos a compartilhar aquilo que julgam ser interessante!
Abraço :)

 
At 4:12 PM, Blogger Julia said...

Adorei o texto.
Também li alguns dos livros e, procurando respostas, continuo procurando-os.
Entre no meu blog. Lá idéias como essa ocupam a cadeira do analista.
Parabéns

 

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