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Não gosto de apresentações em PowerPoint.
Não me sinto confortável, sentado em uma poltrona, cercado de outros duzentos profissionais calados, ou mesmo ao redor de uma sala de reunião escura, olhando para uma apresentação cheia de setas e efeitos.
Platéia de um PowerPoint, você sabe que está diante da Verdade Inquestionável na ponta de um laser pointer.
Mas o que mais incomoda é o ritual que se estabelece, obrigando todos os presentes, a se zumbinizarem por quarenta minutos e deixando de lado suas formas próprias de pensar.
PowerPoint é a mecanização de um jeito de pensar simplista, onde tudo que você tem a dizer, tem que caber num espaço mínimo e de preferência em tópicos.
Não pense linearmente.
Pense aos trancos.
Não elabore.
Não livre-associe.
Apenas siga as setas e você verá que nada no mundo é complicado.
Complicou, insira um gráfico.
E mais.
Apresentações em PowerPoint, como a maior parte do cotidiano corporativo, seguem uma estética própria.
Existem épocas em que palavras são repetidas à exaustão, como na época em que para atingir qualquer objetivo era preciso "romper paradigmas", "pensar out-of-the-box" ou "expandir o envelope".
No Verão, fundos degrades de azul, com fontes serifadas.
No Inverno, fundos brancos e letras sem serifa.
Tudo "impactante".
Tem também os efeitos: animações e transições que alguns acreditam possuírem propriedades mágicas capazes de dar dinamismo a enfadonhas seqüências de texto.
Já notei, por exemplo, que os raciocínios circulares (setas em arcos, intercaladas por textos), geralmente fazem sucesso.
Se o título deste slide então for Círculo Virtuoso, (num trocadilho com círculo vicioso, pegou?) a platéia balançará a cabeça afirmativamente, em cumplicidade admirativa.
Um ou outro clip-art para "humanizar".
Seria sucesso se alguém fizesse um programa capaz de randomicamente combinar palavras-chave fornecidas pelo usuário, relacionando-as com setas, boxes coloridos e imagens.
O Flecharizer®.
Você coloca 30 palavras-chaves e em segundos estão todas combinadas com efeitos impactantes.
No composto retórico-estético de uma apresentação de PowerPoint, não existe espaço para dúvidas ou questionamentos.
As dúvidas serão respondidas no final, fora do contexto do PowerPoint, que é para não poluir esse momento como uma ou outra, com o perdão da palavra, dúvida.
Não sou só eu, ainda bem, que tem críticas a este modelo.
No UOL, Abel Reis da Agência Click escreveu um texto sobre o assunto e relacionou os principais problemas/conseqüencias do monopólio estabelecido por esta ferramenta, os quais ouso copiar sem autorização: a economia de textos, a organização seqüencial da exposição, a itemização de assuntos e a expressão visual de conceitos.
Enfim, sobre fundo branco, entram letras voando e compõe-se num último slide, um "Muito Obrigado" em bold.
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