não conte pra mamãe

29.3.06

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Isso não está certo. Acabo de me dar conta que a maioria das minhas amizades é cultivada e abastecida por escrito.
Tenho e-mail, messenger, orkut. Não escuto a voz de boa parte de meus amigos há pelo menos três semanas. Muitos deles podem, inclusive, sofrer de mudez crônica, que isso não afetaria em nada nossa amizade. Sou um sujeito tímido. Então o fato de esconder atrás de um “from:” ou adiantar o assunto através de um “subject:” são coisas que encaro com certo alívio.
O que me incomoda mesmo é o fato de ter que manter minhas amizades organizadas em pastas. Também não é muito motivador saber que os primeiros quinze minutos do meu dia serão gastos eliminando mensagens que prometem aumentar meu pênis, vender Cialis e Viagra, limpar meu nome no Serasa.
Acho que o sujeito tem que aprender a conviver com os pequenos incômodos que os avanços tecnológicos nos trazem. Junto com os e-mails, vieram os spams, assim como no rastro da lycra vieram, sei lá, as calças legs.
Minha rotina de trabalho, aquela que eu havia desenvolvido com tanta dedicação ao longo de duas décadas, nos últimos cinco anos, mudou radicalmente.
No passado eu trabalhava um dia inteiro e quase não precisava escrever. Não precisava me comunicar por escrito.
Hoje gasto cerca de 6 horas respondendo e-mails. Na verdade estou convencido que o verbo “trabalhar”, no Houais, em breve vai incluir a definição “responder e-mails”.