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Gosto de ler os artigos da Rosely Saião.
Escreve na Folha sobre educação infantil.
Esta semana, trata de um tema interessante: o fato das famílias grandes estarem desaparecendo, dando lugar a famílias com um, no máximo dois filhos.
Entre outras razões, é óbvio, está o custo proibitivo relacionado à produção e criação de mais um ser humano.
Mas não foram questões econômicas que me chamaram a atenção para o texto.
O que é interessante são as conseqüências desta constatação aparentemente irrelevante.
Com menos filhos, a síndrome do filho único, super-protegido e tratado a pode-tudo, assume dimensões epidêmicas.
Raro é ter muitos irmãos e ter que aprender na marra os valores de viver em grupo.
Os pobres diabos que nasceram, nestes tempos de solidão, em famílias numerosas passam a ser os anormais.
Onde já se viu você não ter seu próprio playstation? Como assim? Tem que dividir com seus irmãos? Eu hem!
Confesso que eu, filho único convicto, nascido numa época em que poucos de nós saíam da pelada com os amigos sem ser abertamente agredidos com ofensas como "mimadão", "bebezinho-da-mamãe" e outras expressões impublicáveis, já havia percebido este fenômeno.
Com certo orgulho, me sentia uma espécie de pioneiro.
Até que fugi do padrão e tive três filhas.
É certo, e Rosely Saião destaca o fato, que quando os novos pais de muitos filhos têm condições, apressam-se para dar a cada um de seus rebentos, condições especiais.
Compram casas com 5 ou 6 suites, para que cada filho possa ser tratado como único. Uma TV de plasma, uma estante de carrinhos para cada um e assim vai.
Não foi o que aconteceu em casa.
Lá, tudo é de todos.
Ou todas, já que eu não me incluo nesse coletivismo forçado, fiel que sou às minhas origens.
Incrível como brincam juntas, dividem as bonecas, convivem em miserável harmonia.
No quarto, dormem amontoadas, as vezes na mesma cama.
Já peguei as três usando até a mesma escova de dentes.
Mesmo quando insisto em tentar mimá-las um pouco, negam veementemente.
É difícil conviver com o irritante socialismo das minhas três filhas.
Coisa completamente fora de moda, que seguramente vai trazer conseqüências no futuro.
Não faço idéia de como corrigir esse desvio de caráter.
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