não conte pra mamãe

31.10.04

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Três meninas dividem um apartamento em Tokio. Quatorze, dezessete e dezoito anos. Não fazem idéia de quanto são crianças. Todos que estão em volta delas, a agência de modelo, os produtores, os fotógrafos, até os pais, todos estão a enganá-las. Não deixam que saibam que são crianças. Enquanto isso, moram num apartamento onde tudo é temporário. Por ali, já passaram e vão passar outras crianças. Não sei como estudam, nem se estudam. Não precisam estudar. Não é o primeiro país que conhecem. Conheceram a China, os Estados Unidos, algumas a Europa. Mas não estão fazendo turismo. Estão fazendo carreira. Na geladeira tem um lembrete para que não comam muito. A saudade deve ser amainada com outros prazeres, que não os gastronômicos. O apartamento tem dois quartos, mas elas dormem juntas para dividir o afeto. Preocupam-se com a beleza, mas não a de suas próprias vidas. Estão sozinhas e magrinhas. São crianças pagas para fazerem poses sensuais, sugerirem sua sensualidade imatura. São meninas que vendem um mundo que está apenas nas fotos. São lindas vivendo uma vida feia.É quase escravidão. A liberdade não lhes foi tolhida. Não estão lá porque querem. Estão lá porque pensam que querem. Estão lá porque foram enganadas.