não conte pra mamãe

19.3.06

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Falcão é um documentário triste.
Não é sobre o tráfico.
É sobre roubar a esperança de várias gerações.
Quem tem dinheiro parou de enxergar.
E é fenômeno globalizado.
Quem está vivo quer o mínimo, senão vai arrancar a qualquer custo.
O recado está dado.
Está dado pela Al Qaeda e pelos morros do rio, passando pelos acampamentos do MST.
Se quem tem não ve isso, vai perder.
Sejam os americanos com suas twin towers, sejam os grandes proprietários de terras invadidas, ou nós mesmos, com nossos filhos adolescentes mortos.
Os meninos do Falcão estão aí.
Não ganham fortunas.
Ganham trezentos, quinhentos reais.
A solução é simples.
É ridícula até.
É só dar dinheiro para essa gente.
É só dar escola, comida e trabalho para que saiam dos guetos.
É só fazer que seu futuro seja ao menos uma possibilidade.
Não é simples? Claro que é.
É só dinheiro, escola e trabalho.
Coisas que se consegue com um mínimo de boa vontade.
Coisas que a gente mitificou.
Mas que com um mínimo de união, são fáceis de conseguir.
Eles só querem essa esperança.
Só querem ver a gente se movimentar.
Só querem uma rede-do-bem para cercá-los e protege-los.
Cabe a nós criar essa rede.
Eles só querem isso.
Empresários e cidadãos precisam pagar esse preço, porque ainda está barato.
Há que se reunir as mães desses orfãos e contar com seu apoio.
E aos poucos, esvaziar do tráfico essa mão de obra, que não será mais barata.
Temos que torná-los necessários.
Se continuarmos cegos, surdos e calados, com o véu do tráfico escondendo essa realidade, em breve o preço será impagável.
Cabe a nós pagar para suas vidas valerem a pena.
É só isso que eles querem.
E quem não quer?