não conte pra mamãe

1.12.05

31

Estou cercado de equipamentos.
O lado digital da minha vida.
Meu “digital hub”.
Um notebook com 60GB.
Um hard externo com mais 40 e outro com mais 100.
Meu celular tem 1 GB e ainda tenho um iPod Nano de 4GB e um iPod Video de 60Gb.
Total: 265GB.
É mais do que eu preciso para viver.
Boa parte de todas as músicas que sempre gostei.
As fotos de pessoas que conheço e mal conheço.
Também tenho uma quantidade suficiente de videos dessas mesmas pessoas.
Em resumo, conectado à blogosfera, tenho disponível na ponta dos meus dedos todos os textos, fotos, videos e músicas que possam vir a me interessar.
Então serei digital.
Com exceção de alguns minutos de afeto que despenderei à minha mulher e filhas, não existe muito mais razão para voltar ao mundo real.
O banco é on-line.
Falo com todo mundo por e-mail.
Meu corpo físico está definitivamente ficando obsoleto.
Na verdade, já não vinha gostando muito dele antes da Internet, mas agora, ao menos, tenho fé de livrar-me do meu eu físico de maneira honrosa.
Vou abandoná-lo aos poucos aqui nessa cadeira e manter-me conectado o máximo de tempo possível.
Plugado eu sou lindo.
Sou jovem, atlético, tenho vasta cabeleira e barriga tanquinho.
Sou ágil, tenho respostas rápidas e espirituosas.
Converso com todos e todos respondem felizes.
Baixo informação, subo opiniões.
Off-line, sou patético.
Tímido, flácido, tenho insônia e olheiras.
As unhas crescem, a barba cresce, crescem pelos nas orelhas e no nariz.
E mucos.
As vezes felpas no umbigo.
Então desperto meu notebook.
E estou de volta a vida bela.
Que contraste, meu deus.
Pronto.
É isso.
Não existirei mais fisicamente.
Vou fazer no photoshop o meu avatar, que reflita ao mundo o que sou em hexadecimal.
Só não pode faltar luz.
Senão fodeu.