não conte pra mamãe

1.12.05

30

Nati terminou de escrever seu curriculum.
Nunca tinha visto um de verdade, então aquele que achou no google para copiar deveria servir.
Com algumas adaptações, para torná-lo mais pessoal, é claro.
Estava orgulhosa do resultado.
Uma página e meia com o resumo de seus 18 anos.
Digam o que quiser, mas isso aqui sou eu, pensou.
Em “Atividades” colocou “Telefonar”, “Net” e “Durmir”.
Em “Paixões”, uma sub-divisão que ela mesma havia criado, colocou “Deus” em primeiro lugar.
Depois “Família” e “Amigos”.
Em “Esportes” colocou só o que mais gostava.
“Hand”, “Patins” e “Malhação”.
Em “Filmes Prediletos”, outra criação sua, colocou “Shrek”, “Aos Treze” e “O Chamado”.
Esse último não tinha assistido até o final.
Mas achou que um filme mais sério podia impressionar.
A entrevista era amanhã depois do almoço, então Nati achou melhor dormir mais cedo.
Estava convencida de que, se realmente arrumasse aquele emprego, teria que largar a faculdade.
Ou ficaria muito corrido ir para a academia.
O importante era conseguir aquela vaga.
O salário era tudo de bom e seria suficiente para que ela não precisasse pedir mais dinheiro.
Se economizasse um pouco, podia até sair de casa.
Não que quisesse.
Depois que os pais se separaram, foi um alívio.
Não havia mais brigas e, mãe de um lado, pai de outro, todos tentavam agradá-la.
Uma benção a separação.
Mas dinheiro é importante.
Não compra felicidade, mas compra liberdade.
Mandou imprimir.
Leu de ponta a ponta o resultado impresso.
Releu.
“Estrogonofe”, será que é assim que se escreve?