não conte pra mamãe

23.11.06

82

Desperdicei a última meia hora assistindo ao seriado American Next Top Model.
Tentei dar uma chance.
Me esforcei.
Mas, meu deus, se espremer, não sai nada.
Nem um único e solitário insight.
Não conseguiu superar minhas medíocres expectativas.
Não entendo nada do mundinho, mas mesmo assim, acho que essas 12 garotas, o seriado, o mundo da moda como um todo, foi longe demais.
(Não consigo deixar de pensar nas duas infelizes que morreram de anorexia na semana passada. Porque morreram? Por qual causa lutavam?)
Quando vejo essas mulheres cercadas da entourage que corta seus cabelos e as maquiam e discutem com elas seus assuntos irrelevantes, não consigo evitar o desprezo.
Para que tudo isso?
Não entendo nem bem o que elas querem.
Impressionar a quem?
Como é que alguém pode achar que existe alguma relevância em caminhar 20 metros como cabide de uma roupa que ninguém vai usar de verdade?
E veja, sou publicitário.
Futilidade é meu sobre-nome.
Estou familiarizado com a irrelevância.
Mas nem as reuniões mais fúteis, nem as discussões mais banais se comparam a idiotice de se discutir por 12 minutos qual o melhor lápis para os olhos, ou qual a "composição" de roupa e maquiagem que mais se adequa ao seu "estilo pessoal".
Estou acostumado a passar horas e horas discutindo assuntos sem importância, apenas porque alguém acha que assim vai influenciar a venda de mais meia dúzia de sandálias.
Não vai.
Assim como essas meninas, essas modelos (modelos de que?), não vão fazer nada além de desaparecer na história.
Sem nenhuma importância.
O futuro vai rir delas como nós rimos das Miss Isso, Miss Aquilo dos anos setenta.

8.11.06

81

The Long Share

Li e reli os livros da moda.
Tipping Point, Long Tail, The Perfect Thing.
A epidemia, os nichos, o iPod.
Tem uma coisa em comum aos três.
Não é a internet.
É o sharing.
Sharing é uma palavra difícil de traduzir.
Pode ser dividir, compartir, compartilhar.
Mas não é exatamente nenhuma delas.
Dividir não é, porque 2 músicas divididas por 2 pessoas dá 1 música para cada.
E quando alguém share 2 músicas, as 2 pessoas acabam com 2 músicas.
Compartilhar tem uma idéia de simultaneidade que não existe em "sharing"
Compartir lembra dividir que, de novo, não representa o espirito de sociabilizar de share.
Me ocorreu que sharing é o grande benefício da internet à nossa cultura.
E nós não temos muito claro como lidar com isso ainda.
Então criam-se teorias e escrevem-se livros.
Para tentar resolver os problemas que surgem, aparecem também os pretensos controles, vem o Congresso querendo regulamentar, vem a indústria com seu DRM e com a ilusão de que ainda existe espaço para copyright.
Não existe.
A briga para manter o status quo já foi perdida.
O sharing jogou por terra a idéia de direito autoral.
E põe em cheque todo o arcabouço do direito atual.
Tão maravilhoso para nós, que tivemos a sorte de viver neste período histórico quanto terrível para a indústria que teve seus alicerces atingidos, mas que insiste em não acusar o golpe.
O que era copyright agora é o direito de copiar.
Sharing, peer to peer, é uma idéia absolutamente devastadora.
Qualquer obra, texto, música, filme, software, inteligência que possa ser transformada em bytes está ameaçada de tornar-se epidêmica.
E seu autor de não ver um único tostão de seu sucesso.
Os produtos físicos estão protegidos?
Que nada.
Nesse new-shared-world nada é secreto.
Nem a fórmula do sabão em pó, nem o design do novo modelo da Volks.
Share the wealth, distribua sua riqueza, numa livre tradução, é como os sites do underground chamam os fóruns de distribuição de software pirata.
"Distribua a riqueza".
A idéia de que você tem e pode dar para o próximo sem perder o que é seu.
Amanhã a recíproca será verdadeira. Ou não. Whatever.
O assustador é que, no contexto da internet, Share The Wealth é igual a share.
Você sempre e só share the wealth.
Alguém tem, você não.
Segundos depois, vocês dois têm.
Está distribuída a riqueza.
Next.
Com a música e agora filmes, só não percebe quem não quer, está acontecendo uma 'Reforma Agraria' global.
Num único depositário, a Internet, está toda a produção musical do planeta.
Que passo a passo está sendo transferida de um usuário para outro.
De um iPod para outro.
Lentamente.
Em teoria, o peer-to-peer potencialmente dá a todos, o direito de ter todas as músicas já produzidas.
Os limites desse mega-share-the-wealth não são os legais.
São apenas sua banda e seu espaço em disco, que no futuro próximo não representarão mais limitação alguma.
Ah. E sua ética, é claro.
Mas historicamente, sempre que dependeu da ética, o homem desapontou o homem.

1.11.06

80

Os controladores de vôo estão em greve.
Ouvi alguém dizendo que tinha medo de voar.
Acho que, pelo contrário, agora é o momento mais seguro para se voar.
A chamada "operação padrão" é na verdade a volta dos controladores de vôo àquelas condições ideais que nunca deveríamos ter permitido que fosse perdidas.
Um representante do sindicato explicou melhor: durante a operação padrão, cada controlador de vôo tem sob sua tutela 4 aeronaves. Fora da operação padrão chegam a controlar 8 aviões. Nas aerovias, estão controlando 14, quando em condições "normais" chegam a 19.
Ou seja, menos vôos para cada operador. Menos riscos para o passageiro.
Seguramente eles voltarão - pela pressão das companhias aéreas a trabalhar sob muito maior stress.
O governo, ciente do problema, abriu vagas para novos controladores. Ocorre que trata-se de uma profissão extremamente complexa, onde a formação leva quase dois anos.
Preocupe-se, então, quando a greve acabar.
Enquanto isso, se você quiser brincar de controlardor, experimente:
http://www.atc-sim.com/