não conte pra mamãe

29.5.06

61

O Papa esteve visitando os campos de concentração de seu país natal.
Isso não é lá novidade, afinal João Paulo II também já fez essa viagem.
A novidade é que Bento XVI num rompante de consternação, perguntou "onde Deus estava" durante os piores dias do Nazismo.
Se ele não sabe, como é que eu vou saber?
Não entendo muito bem porque o Nazismo merece tamanha atenção papal.
Nem compreendo porque as mortes de lá mereceriam mais atenção do que as de cá.
Afinal, o livre-arbítrio faz do Nazismo um ato humano, desses que Deus tem pouca o nenhuma influência.
Como acontece em toda guerra, pode-se até lutar em nome de um Deus, mas na hora do aperto, não adianta clamar por Ele.
A pergunta seria mais adequada para as mortes do Katrina, do Tsunami e do recente terremoto na Indonésia, essas sim, tragédias que Deus poderia ter tido alguma influência.
Ao questionar o paradeiro divino, o Papa humaniza sua própria figura.
Faz com que a gente pense que talvez, por traz de tanta opulência e honraria ele também não tem a menor idéia das tragédias que nos aguardam, nem do destino, nem da luta entre bem e mal.
E se nem o Papa tem uma linha-direta com o divino, então estamos mesmo ferrados.
A foto de Bento XVI caminhando por Auchwitz, tem alguma coisa de quarta-feira de cinzas.

16.5.06

60

O colunista Demétrio Magnoli, no texto "Pânico no Galinheiro", publicado na seção Cotidiano da Folha de terça-feira 16 de maio, afirma que é uma vergonha a reação dos paulistas aos boatos de segunda-feira, fugindo para seus "bunkers domésticos".
Chamar São Paulo de "galinheiro" retrata bem o caos que a cidade se transformou não na última segunda, mas nos últimos anos em termos de segurança, saúde, educação, poluição e o que mais se leve em conta.
Mas termina aqui o acerto do colunista que erra ao nos chamar de covardes e nos comparar aos londrinos e aos bósnios.
Alias, o simples fato de comparar a violência urbana à que estamos submetidos com a de países em guerra, já deixa clara a gravidade da situação e justifica a reação alarmada dos habitantes de uma metrópole em tempo de suposta paz.
Demétrio chega até a referir-se aos londrinos como modelo de heroísmo.
Tais comparações são descabidas e carecem de embasamento histórico. Os londrinos, durante a segunda guerra, chegaram a enviar suas crianças para casas de parentes em cidades vizinhas e, boatos à parte, as mortes neste final de semana superaram as mortes em Bagdah no mesmo final de semana.
Qualquer raça teme a violência e é ingenuidade prostrar-se diante da iminência de uma profusão de criminalidade. Para o colunista parece ser motivo de orgulho parar diante de bandidos armados, para mostrar-se herói.
Não somos covardes os paulistas.
Somos, sim, descrentes da capacidade do governo de nos prover segurança.
Alias, somos descrentes da capacidade do governo em nos prestar qualquer serviço que seja, por isso a classe média que pode, corre para os planos de saúde privados, para as escolas particulares e recorre à segurança privada.
Nosso governo, municipal, estadual e federal ruiu.
O caos de ontem não foi covardia. Nem foi o efeito de uma guerra psicológica, como alega Demétrio.
Foi só o sintoma de um povo que perdeu a conexão com seus governantes e que, por isso, não crê em suas instituições.

15.5.06

59

O prefeito Gilberto Kassab não é nome de boa lembrança.
Foi secretário do Pitta, mas como o próprio Kassab disse, 3 milhões de pessoas votaram no Pitta, então ele não foi o único a se equivocar.
Eu não votei no Pitta.
Nem no Kassab.
Tenho todos os motivos para desconfiar do nosso prefeito.
Na semana passada, Kassab apresentou um projeto absolutamente radical para banir da cidade o caos causado pela completa falta de critério na utilização de cartazes, outdoors e faixas.
Segundo o projeto, praticamente todas as formas de propaganda exterior seriam sumariamente banidas do espaço urbano.
Outdoors, telões eletrônicos, backs e front lights, carros, bicicletas e trailers com publicidade, faixas, empenas de prédios, banners e cartazes na fachada de estabelecimentos comerciais. Adeus para vocês.
Uma limpeza como nunca se viu.
A cidade ficaria...linda.
Foram poucas as reações contrárias e nenhuma veio de partes não diretamente comprometidas com o assunto.
Nenhum cidadão vaiou.
Só a ABA, a Associação Brasileira de Anunciantes e os veículos especializados em comunicação parecem lamentar a medida.
Segundo o semanário Meio & Mensagem, que evidentemente tem interesse comercial no segmento, o prefeito estaria desprezando "um segmento que investe R$ 250 milhões em publicidade".
Por essa lógica, torna-se lícito o valerioduto, que movimentou muito mais que isso.
Desde quando as decisões legislativas, cívicas, urbanas devem se pautar pelos valores investidos?
A medida, se vai prejudicar uns poucos magnatas das faixas de rua, vai beneficiar milhões de cidadãos que poderão ver de novo a cidade escondida atrás daquele outdoor, ou o verde que ainda restou atrás daquele telão.
Alega-se que todas as grandes cidades do mundo são repletas de comunicação exterior.
Não é verdade.
De Buenos Aires a Nova York, de Paris a Los Angeles, nenhuma cidade se compara a São Paulo em termos de poluição visual.
Em São Paulo vale tudo.
Qualquer mané está liberado a agradecer a Santo Expedito pela graça alcançada na forma de uma faixa de rua que impede a visão do semáforo. Qualquer show de pagode pode se anunciar impunemente em lambe-lambes nos postes da cidade.
Por não respeitarmos o espaço urbano, até as equipes da prefeitura que pintam postes e calçadas, distribuem suas brochadas irregularmente, resultando numa cidade imunda, feia e mal cuidada.
Esse projeto é uma luz na escuridão.
Cabe a nós, cidadãos, apoiá-lo.
O lobby das empresas de mídia exterior é fraco.
É pena que nosso lobby, o dos cidadãos indignados, seja mais fraco ainda.

9.5.06

58

Não lembro em qual filme, Woody Allen disse, no personagem de Alan Alda, que o humor precisa de desgraça + tempo para existir.
Ou seja, qualquer fato, por pior que seja, vai virar piada, é só uma questão de tempo.
Interessante isso, apesar de não explicar porque tenho vontade de rir em velórios.
O tempo faz a desgraça perder a importância, e assim, podemos rir.
Notícias em jornais antigos definitivamente perdem a importância de quando formam publicadas.
Os títulos das manchetes de dez ou vinte anos não são mais tão graves quanto a notícia fresca.
Catástrofes, o preço das ações, as guerras, as fofocas, a política, quando relidas em jornais velhos, não têm mais a importância que tinham quando foram impressas.
E importância talvez nem seja a palavra mais precisa.
A sensação é de que nada é tão grave quando visto à distância.
O tempo passou, as feridas cicatrizaram, os riscos gerenciados, as mortes choradas, os prejuízos contabilizados.
E o mundo continuou.
Nada muda sob o sol, não importa a gravidade da notícia da capa.

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O escândalo do pt-valério-dirceu-silvinho está sendo requentado.
Ou talvez os homens que manipulam o seu e o meu voto realmente tenham guardado o pior para os próximos meses.
A verdade é que quando peguei o jornal hoje de manhã, achei que estava lendo um jornal velho.
As mesmas notícias que não terão nenhuma conseqüência.
As mesmas investigações que culparam os suspeitos usuais.
Seremos enganados de novo e o mundo continuará.
Não importa a gravidade da acusação, Lula nunca saberá o que aconteceu nem pretende fazer nada a respeito.
Vai ver que ele sabe que nenhuma notícia é importante no longo prazo.
Vai ver que sabe que tudo vira piada no fim.
O que Silvio tem a dizer, ou o que o PT tem a justificar, não tem mais nenhuma importância para mim.
Hoje a notícia fresca já amanheceu velha e não achei graça nenhuma.

8.5.06

57

O semanário Meio & Mensagem desta semana fala sobre o crescimento dos investimentos argentinos em propaganda, superando em muito o Brasil.
Antes de entrar em desespero, deve-se levar em conta que qualquer índice argentino de crescimento, no passado recente, não pode ser analisado de maneira isolada. A Argentina vem se recuperando de uma das mais graves crises de sua história. Sendo assim, o alegado crescimento de 25.75% nos investimentos publicitários em 2005, apenas trazem o país ao patamar que se encontrava em 2000.
Se analisarmos o crescimentos dos investimentos publicitários no período que vai de 2000 à 2005 naquele país, veremos que o crescimento anual médio é de apenas 4.35%. Por essa ótica, da virada do século até 2005, a publicidade argentina cresceu apenas 21%.
É claro que por este viés histórico, não levamos em consideração o momentum atual do mercado argentino, que é evidentemente positivo.
Estando novamente na primeira liga dos investimentos, a Argentina terá necessariamente que crescer para fora de suas fronteiras já que a gorda fatia advinda da mídia deve estar próxima de seu limiar máximo. E essa exportação vai ocorrer, como a matéria dexou claro, principalmente pelos setores de criação e produção,
O recado, para nós, é simples: corra que os argentinos vêm aí.
Em Produção, vejam sua produção de cinema recente e comecem a se preocupar.
Hollywood já colocou Buenos Aires na folha de pagamentos há pelos menos 4 anos.
Em Criação, é ainda pior, porque eles se colocam na nossa frente já na fila da largada.
E não digo isso porque seus criativos sejam melhores que os nossos.
Não é talento que coloca os criativos argentinos em vantagem nos investimentos em criatividade.
É cultura, lamentavelmente.
Não a cultura de quem cria, mas a de para quem se cria.
Cultura do consumidor médio astronomicamente melhor do que a nossa, o que permite, ou exige, mais inteligência no produto criativo. Cultura próxima da européia, o que transforma Buenos Aires, não só num pedacinho da Europa, como eles adoram esfregar na nossa cara, mas também num campo de provas bom e barato.
Nós, pobre caldo cultural, temos que falar a linguagem de um povo que se identifica com todas - e por isso mesmo - nenhuma parte do mundo.
Dá-lhe varejão.
Somos tão, mas tão especiais, que não servimos bem ao interesse do primeiro mundo da propaganda.
Por que então nosso sucesso?
Porque criamos nossa propaganda de maneira única, para nosso povo único, e quando nos fazemos entender lá fora, somos geniais.
Não vou dizer que é exatamente como no futebol, mas é.
Só que gringos, na hora de botar a mão no bolso, preferem algo mais familiar, como a Argentina.
Enfim, yo no creo en argentinos. Pero que los hay, hay.

4.5.06

56

Eu queria ser o André Santana da Belíssima.
Além de boa pinta, ele pode tudo.
Como presidente da empresa, cargo conquistado numa evidente mutreta, recebeu imediato apoio de todos os diretores.
Mais ou menos como aconteceu com o presidente Lula, que apesar das consagradas picaretagens de sua equipe, continua contando com o apoio irrestrito da população e de seus pares.
Ao contrário do Lula, no entanto, André cuida de tudo pessoalmente.
Da contratação da faxineira à demissão de um diretor. Da mudança da sede à construção de uma nova fábrica. E se o caso é este último, André vai pessoalmente às casas que serão compradas para serem derrubadas.
A Belíssima é como o mundo deveria ser. Uma ditadura onde um déspota esclarecido resolve o que é melhor para todos. Ninguém dando palpite, a empresa vai de vento em popa e André sabe de tudo que se passa em sua administração.
Lula não sabe de nada nunca.
André sabe muito mais, inclusive, do que o séquito de diretores que sempre o acompanha.
Diretores que são sempre surpreendidos pelas decisões agressivas de seu presidente.
Lula não é assim. Lula toma apenas decisões previsíveis e tacanhas.
André cuida inclusive da relação com investidores. Defende seus interesses.
E nisso, é muito semelhante ao Lula, que está desde que assumiu, em campanha para se reeleger.
Agora o André vai lançar a Lindona, uma linha de produtos mais barata, uma espécie de Fome Zero. Só que diferente deste último, Lindona vai ser sucesso. E o Fome Zero não passou de mais um infeliz projeto assistencialista, aos moldes populistas da falida URSS, sem nenhuma possibilidade de sucesso.
Afinal, num país corrupto como o nosso, quem pode ser escolhido para distribuir dinheiro?
Enfim, eu já comprei ações da Belíssima e, pensando bem, já escolhi meu candidato.

55

Minha primeira reação com a declaração do nosso Presidente de que a Bolivia está correta ao nacionalizar suas reservas naturais foi de otimismo.
Imagino que é assim mesmo que um presidente deva reagir.
Na imprensa diz que concorda, mas por trás começa a articular para mandar uma bomba nuclear nesse paizeco petulante.
Mas depois de pensar um pouco, cheguei à assustadora conclusão que provavelmente Lula não está articulando nada mais.
Foi e será apenas essa a sua reação.
Já o presidente da Petrobras informou que cancelou todos os investimentos que seriam feitos na Bolivia.
Ora por favor. Isso lá é ameaça?
Investir onde? Todo o dinheiro brasileiro que estava na Bolivia foi tomado pelo indígena que preside uma nação cucaracha que só tem a nós como cliente.
Nos roubavam de dentro, agora nos roubam de fora.
Bem feito para nós.
Afinal, quem mandou a Petrobras se preocupar mais com o valor de suas ações do que com seu produto final?
Temos auto-suficiência na produção de petróleo e auto-incompetência na gerência de nossas necessidades energéticas.
E o Lula apenas acena em despedida, com os quatro dedos populistas ainda sujos de petróleo.
Adeus Petrobras Bolivia.
Perdemos mais uma.
É ecidente que trata-se de uma estratégia do outro fanfarrão latino, Hugo Chaves, para valorizar seu petróleo.
E tem ainda o Kirchner que sempre que bate o pé, nós cedemos.
E ainda vem outro índio no Peru.
Ou seja, estamos cercados de índios a nos saquear os direitos, os contratos e os dinheiros.
Nós, uma vez nação líder do cone-sul, estamos sendo tapeados por esses grosseiros.
Lula é uma figura monarquica.
Não apita nada nem sabe de nada.
Alkimin não sabe o que dizer.
Garotinho faz greve de fome.
Isso vai piorar antes de melhorar.