não conte pra mamãe

29.6.05

19

Não sou socialista, nem sou comunista.
Sou humano. Sempre me pareceu que o discurso do Presidente Lula, desde que o PT surgiu, representava a vontade singela de dar ao povo um salário justo e condição de vida um pouco melhor.
Sempre foi prioridade dele uma divisão de renda mais justa.
Lula, por sua vez, teve a paciência e a felicidade de ver seu discurso amadurecer junto com o Brasil pós-golpe. O Brasil que elegeu Maluf, elegeu Collor e finalmente entendeu que Lula poderia definitivamente ser uma alternativa à vergonha que nossa política se transformou.
Lula é um grande negociador. Mas assim como Fernando Henrique, sabe de seu papel histórico. Seu papel não é reconstruir a nação como Juscelino. Nem gerenciar uma transição como Sarney. Seu papel é simbólico. Lula é um ícone do povo no poder. E sabe disso. Se vestiu desse personagem há muitos anos e acima de tudo, conviveu com seu próprio personagem.
Chegou ao poder quando a máquina política estava absolutamente viciada. Não temos cultura suficiente para subsidiar um estado tão pesado. Assim, Lula não pode fazer nada. Nem saberia.
Lula não traiu ninguém. Só quem é ingênuo poderia esperar dele uma revolução. Só esse mesmo ingênuo poderia responsabilizá-lo pelos atuais escândalos. Lula não foi enganado, muito menos ignorava o que se passava. Lula, ciente de seu papel histórico, decidiu que a política das negociações deveria existir abaixo dele. O Brasil sempre perguntou quem paga as contas de Lula. Menos ele. Ao fundar o PT, Lula cristalizou-se como um emblema do povo e esse povo o levaria ao poder. Caberia aos Jesuínos, aos Dirceus viabilizarem política e economicamente este fim.
É claro que mais poder custa mais caro. Claro que as negociações saíram do contrôle do partido. Claro que a sujeira já está nos pés de Lula e que sua história política evidentemente será maculada.
Este é o fim de uma era.
Quando as investigações terminarem, o PT terminará junto. O PT como conhecemos.
Novas lideranças surgirão.
A era Lula acabou.

28.6.05

18

Hoje na página A-10 da Folha, em apenas meia página, um flagrante do Brasil do Jefferson.
A notícia informa que o IBOPE forneceu, o semanário Meio & Mensagem publicou e a Folha copiou um ranking totalmente equivocado, com as agências que mais cresceram em 2004.
Tudo errado. Os dados do IBOPE estavam errados, mal interpretados, resultando em acusações falsas ao Marcos Valério, dono da SMPB, agência que provavelmente fazia pagamentos relacionados ao Mensalão.
A agência que aparece em primeiro no ranking, a DNA, do mesmo Marco Valério, caiu do primeiro para 22º posto. Outras agências aparecem no ranking novo que não estavam no ranking anterior.
Estar no topo de um ranking como esse, sempre foi motivo de orgulho para empresários da publicidade. Agora não mais. Estar no topo agora pode chamar atenção demais.
O dono da agência que passou a liderar o ranking, a Casablanca, um tal de Julio Sales apressou-se em afirmar que não cresceu 2.000% como mostra o ranking. Cresceu apenas 20%, duzentas vezes menos do que dizem os números.
O IBOPE que já admitiu errar uma vez, pode estar errado uma segunda vez. Esse é o resultado de um ranking não auditado. A procedência dos números não é clara, a interpretação menos ainda.
A Folha, atabalhoada, confunde mais ainda e se refere à Casablanca como “a Sales”.
Mas não é só isso. No novo ranking, em segundo lugar aparece a agência do marqueteiro do Fernando Henrique, Nelson Biondi, que há mais de trinta anos vive às custas das contas do governo. Atravessou Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula para ser a segunda agência que mais cresceu em 2004. Próximo na lista está a agência de Duda Mendoça, aquele preso numa briga de galo no Rio, que fez a campanha do Lula.
Misturou tudo. Fernando Henrique, briga de galo, PT, Mensalão, os equívocos do IBOPE, os enganos da Folha, o Duda, o Nelson, o Marcos. Está tudo ali.
Um retrato em preto e branco de como somos enganados, vilipendiados, roubados e ludibriados.
Para esquecer tudo isso, ligo a TV para ver Brasil e Argentina no sub-20.
E a Argentina ganha aos 47 do segundo.
Eu não mereço isso.

21.6.05

17

Nosso país, infelizmente depende da imprensa.
Ninguém sai às ruas. Ninguém grita, ou bate panelas.
E boa parte de nossa imprensa é medíocre.
Nossos melhores jornalistas são meramente investigadores.
Não são especialistas. Nem sequer articulados.
São bons para destruir iletrados. São fortes contra despreparados.
Quando pegam pela frente alguém como Roberto Jefferson, são facilmente postos fora de combate.
No Roda Vida, da TV Cultura, ao centro o sujeito que apoiou Collor e Lula, por si só uma incoerência. Evidente sinal de que para ele política não é crença, é oportunidade.
Um cidadão flagrado com a mão no fundo do pote.
E no momento em que se esperava que finalmente seria desmascarado, não é o que acontece, por total despreparo de nossos jornalistas.
O que se vê é um mediano advogado, razoável orador que como um camelô, impõe seus pontos-de-vista distorcidos, driblando, esquivando-se das parcas ameaças de cheque-mate, através de uma retórica verborrágica vazia na forma e confusa na ética.
Um homem que não tem claro os limites da decência pública.
Fala de dinheiro, de esquemas, de benefícios, de misturar o público e o privado. Não fala de legislar.
Fala apenas dos conchavos.
Jefferson, é escorregadio. Não cai em ciladas fáceis e está bem informado. Mais informado até que os jornalistas. Processado por quebra de decoro, acusado de corrupção, Jefferson se arvora uma serenidade imoral.
Sequer parece inseguro.
Os jornalistas o respeitam, o temem ou ambos.
O chamam de senhor, gaguejam ao tentar perguntar temas mais sensíveis.
Afirma que lhe parece natural que o empresário doe dinheiro e receba contrapartidas dos deputados.
Sugere até que as doações sejam descontadas do imposto de renda, ou seja, propõe que o governo devolva aos empresários o dinheiro que estes entregarem aos deputados.
A reação é discreta. Nem todos os jornalistas parecem entender o desvario da proposta.
O homem é lobo do homem.
Ao que tudo indica, a briga é de duas facções criminosas que se enfrentam.
Jefferson em seu morro, Dirceu no seu. Os dois em pleno braço de ferro público.
E nós brasileiros, paralisados, torpes, calados, assistindo o desfecho.
Para saber a quem vamos pagar a seguir.

11.6.05

16

Estados Unidos e Inglaterra estão perto de anunciar o perdão da dívida de boa parte da Africa.
Pelo menos isso nos dá alguma esperança. Afinal, quando chegarmos a um nível de carência medieval, na mais absoluta miséria, com níveis astronômicos de AIDS, febre amarela, malária, ébola, enfim, à beira da extinção, vão perdoar a nossa dívida também.