não conte pra mamãe

18.11.04

11

Enquanto escrevo, escuto Racionais. Eu queria gostar, mas é lixo. Falam errado, erram a concordância, comem os "s", entre outras atrocidades. Não presta.
É o resultado de overdose de democracia.
Criamos qualidade humana sofrível e é esta arte que nos devolvem. Lamentável. Só são capazes de reproduzir seus cotidianos medíocres, incompletos, assustados e sem criatividade, instruídos a culpar a inépcia do Governo por seus fracassos. Sei como isso soa elitista. Mas convenhamos, somos a elite e deveríamos ter nos preocupado com os caminhos da sociedade que organizamos.
Enfim, nossa cultura popular se transformou no que é por nossa culpa.
Os filhos e netos pobres da Ditadura, esperavam mais do governo. Esperavam ser tutelados.
Para os Rap, o fracasso do governo e o sucesso das elites, justifica seus próprios fracassos.
Não há nada de novo nisso.
O cinema também já culpou o governo. E o teatro também. A Embrafilme, o BNDES, o Banco do Brasil, na visão distorcida de um povo acostumado a ser mandado são as únicas alternativas.
Aqui, a culpa por nossa ineficácia privada é sempre a incompetência estatal. Esquecem que não há mais Ditadura. Esquecem que quem está governo foi eleito. Esquecem que a meritocracia, e não o assistencialismo, é a única versão de democracia que deu certo no mundo.
Assim, como não foi imposto pelo Governo, as elites foram buscar na favela e nos bares a cultura que a própria elite não conseguiu criar.
Nada de novo também.
Nossa história sempre foi buscar na pobreza o tema para a arte.
No século passado isso tinha um certo romantismo. A miséria era um fato da vida e virava samba.
E era arte encontrar lirismo na miséria.
Mas a que se ser inteligente para executar esta manobra.
Gilberto Gil já falou sobre isso, criticando. Disse que a Bossa Nova foi feita por gente de faculdade.
Agora só nos resta o Axé, o Pagode e o Hip Hop. Música que não deveria ter saído dos guetos onde foram criadas por serem apenas um desabafo equivocado. Tinham que ser apenas tema de estudo de sociólogos. Mas escapou para o mainstream não por mérito, mas por interesse comercial. A miséria é farta em sustentar-se.
Hoje a música trocou os bares de praia em Ipanema pelos botecos sujos de periferia.
Música que não é feita por malandros, mas por bandidos. Bandidos que viram heróis porque se julgam no direito de eleger os culpados por sua condição. Os produtores culturais, comprometidos com suas vendas, resolveram elevar ao patamar de cultura o que antes não seria levado a sério. E quem reclamar vai ser considerado facista. Afinal tem que se deixar o povo falar.
E toca produzir lixo porque lixo vende.
Aconteceu com o Punk, dirão alguns, como defesa. Aconteceu e daí?
Aconteceu o mesmo com o Punk.
Mas a música, para nós brasileiros, tem outro valor.
É tesouro nacional, pode me chamar de purista.
Para que procurar o próximo Luis Melodia no meio do morro, se qualquer grupinho de rap fala a língua dos manos e vende?
Os Axés e Pagodes são menos graves porque são moda. São voláteis. O Hip Hop preocupa mais, porque é movimento social.
É power to the people.
E isso assusta. Porque é apologia da violência da maneira mais rasteira, ou seja, parecendo ser da paz.
São abandonados ignorantes, procurando culpados e não soluções.

5.11.04

10

Quero falar sobre a frase "para sua segurança".
Você já notou quanto tempo e liberdade você perde em nome da "sua segurança"?
O jeito que os bancos tratam a gente, por exemplo. No Unibanco, para sacar dinheiro, além da sua senha, você agora precisa de uma outra senha, de letras, para sua segurança. Três letras que diariamente são associadas a três números diferentes. Se você esquecer das três letras não poderá sacar seu próprio dinheiro. E para sua segurança, também tem limite para tudo. Saque 24 horas não pode ser acima de um determinado valor. No período da noite, onde curiosamente é quando você mais pode precisar de dinheiro com urgência, o valor limite ainda é menor. Tudo para sua segurança. Pagamento por telefone, pagamentos por Internet, todos tem limites máximos, que nada têm a ver com seu saldo. Querem proteger você. Não entendo muito bem, qual é a segurança de não poder pagar meu cartão de crédito acima de um determinado valor pela Internet. Entendo, sim, que com isso o Unibanco ganha mais tempo para trabalhar meu dinheiro. Nos caixas eletrônicos também. Quanto menos eu sacar, melhor para o banco. As assinaturas também não valem nada. Os cartórios inventaram esta besteira de "reconhecimento de firma" e não bastasse isso, ainda tem uma modalidade de reconhecimento de firma, onde o infeliz tem que ir pessoalmente ao cartório. Tudo para proteger você. Tem também as gravações. "Essa ligação está sendo gravada para sua segurança". Tive um problema com a TIM outro dia. Após um milhão de ligações para o atendimeto-ao-consumidor, pedi para escutar a gravação de uma ligação anterior, onde poderia provar que fui induzido a um engano pelo sujeito que me atendeu. Quando lembrei que eles tinham gravado a ligação "para minha segurança" pensei ter encontrado a solução para o impasse. Não me deixaram ouvir. Só com mandato judicial. Mas espere. Se é para minha segurança, porque eu mesmo não posso ouvir a gravação?
No condomínio onde moro, o entregador de pizza não pode entrar. Pode ser um criminoso. Tenho que ir buscar a pizza pessoalmente.
Desconfio que tudo isso é resquício de um pais cuja sociedade foi por muitos e muitos anos tutelada.
Somos vistos por empresas e governo como gente frágil. Fáceis de enganar. E assim, paradoxalmente, nos enganam ao mesmo tempo que alegam nos proteger.
De meu lado, dispenso proteção. Quero uma vida insegura e confortável.

9

Odeio brinquedos educativos. Deviam ser proibidos. Sabe como é? Geralmente a loja é super-bacana por fora. É um tronco de árvore, um castelo, ou uma bota tamanho gigante. Você chega com as crianças e o lugar parece um paraíso.
Aí você entra e começa a ver os brinquedos. E são chatos. Profundamente chatos. São bilboquês. São carrinhos que não parecem carrinhos, feitos de madeira sem graça e correm por trilhos de madeira ainda mais sem graça. Não simulam o mundo real. Os fantoches são feios, de papel maché e servem mais para assustar do que para divertir."Se você se portar mal, papai te dá essa fadinha!". As crianças, embriagadas pelo volume de brinquedos e porque geralmente essas lojas deixam amostras para serem destruídas, levam mais tempo para descobrir que aqueles brinquedos não tem graça nenhuma. Mas descobrem. Geralmente no dia seguinte, depois que você comprou um trenzinho de caixas de fósforos, que ficará eternamente jogado num canto, guardando poeira. Acho uma pena pais que criam filhos com brinquedos educativos. Alguns não deixam os filhos verem mais que uma hora de TV por dia. Crianças tratadas a brinquedos educativos e sem TV, geralmente não jogam videogame. Os mais radicais, não deixam os filhos brincarem de videogame nem nas lojas de eletrônicos, veja se isso é possível. Ficam lá, sendo educados pelos brinquedos de pano. Brincando com carrinhos de madeira idiotas, enquanto o resto do mundo está dirigindo Ferraris on line.
Até que um dia, esse menino de oito anos, filho do Gepeto, vai visitar um amiguinho.
E o Playstation está lá, pra ele colocar finalmente as mãos.
Acreditem.
É a primeira experiência sexual do pobre infeliz.